segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

PAGANDO COM A LÍNGUA


Muito me irrita a hipocrisia humana e a ignorância por puro comodismo e preguiça de se informar. E me irrita mais ainda quando essas mesmas pessoas comodistas e preguiçosas se voltam contra as pessoas que procuraram se informar sobre o que acontece a nossa volta.
O mínimo exemplo disso é sobre um fato que eu já sabia, mas agora se tornou mais evidente depois de minha caça a informações relacionadas à dieta humana.
Toda vez que as pessoas percebem um inseto ficam com "nojinho", aversão ou vontade de matar (mesmo sabendo que alguns insetos não oferecem risco algum). Só que alguns desses mesmos insetos que você repudiou e/ou pediu para seu namorado matar por causa do seu medinho/nojinho faz parte da composição de muitos alimentos que você ingere diariamente.
É o caso dos nossos amigos aí da ilustração. Trata-se da Cochonilha, ou "pulgão", uma cucaracha parasita mexicana. Milhares deles são triturados para a fabricação de corantes vermelhos que são utilizados em: iogurtes, bolachas recheadas, sorvetes, sucos e leites com sabores de frutas vermelhas e afins.
Pois é... estamos rodeados de alimentos dos mais diversos tipos. Vegetarianos que se prezem devem ser muito (MAS MUITO) atentos ao que comem.
Se você, vegetariano ou não, que não quer aderir ao tempero especial de cucarachas mexicanas, não consuma alimentos com os seguintes corantes: Vermelho 4, Vermelho 3, Cochineal, Corante ou Colorizante E120, Carmim Cochonilha, Cochonilha, Corante Natural Cochonilha, Corante Natural Carmim, Corante Natural C1.
Prefira alimentos que especificam o uso de corantes a base de extrato de beterraba, páprica ou urucum.
Sim, eu sou uma defensora dos animais, mas não escrevi esse artigo somente por esse motivo. Como o título diz, escrevi também para mostrar como o ser humano é ignorantemente hipócrita e contraditório e que muitas vezes acaba pagando suas atitudes mesquinhas com a própria língua (literalmente!).
Fontes:

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O FEITIÇO VIROU CONTRA O FEITIÇEIRO


Às vezes pergunto-me: o que é certo nesse mundo? O errado parece certo. O certo parece errado. Depende dos olhos de quem vê. Depende da justiça de cada um. Hoje li uma reportagem dizendo que um menino morreu eletrocutado (9 anos) e outro ficou gravemente ferido (10 anos) ao tentarem pular o muro do vizinho para apanhar mangas. O dono da casa, que por vezes era invadida por meninos sedentos por mangas, foi preso em flagrante e vai responder por homicídio culposo (sem intenção de matar). Tudo porque ele desviava energia do poste para alimentar a cerca elétrica. Depois da morte, moradores depredaram a casa e ainda roubaram móveis, como forma de protesto. Eu imagino a dor da mãe do menino morto. Perdeu o filho repentinamente de uma forma que poderia ser evitada. Mas agora eu tenho vários questionamentos.

1) Você colocaria cerca elétrica ao redor de sua casa para proteger a sua família e seus bens (que você conseguiu com o suor do seu trabalho) OU para uma assistir sessão sadomasoquista de crianças sendo eletrocutadas?
2) Desde quando protestos envolvem saques de pertences de outros? Na reportagem que li, estava escrito que eletrodomésticos foram roubados do dono da casa. Bela maneira de protestar. Então vamos roubar uma cafeteira e um liquidificador dos nossos políticos corruptos como protesto. Isso não tem cabimento.
3) Crianças de 9 anos não sabem o que é uma cerca elétrica, mas sabem invadir a residência dos vizinhos, roubar mangas e sabe-se lá mais o quê. Esse caso é dos meninos dessa reportagem. E outras crianças de 9 anos que possuem porte de armas e matam?
4) Será que as mães achavam bonito os filhos voltarem com mangas roubadas? Porque não foi a primeira vez. Se fosse comigo, eu levaria uma sova para aprender a nunca mais invadir a casa dos outros e nem pegar o que não é meu.
5) Colocar placas avisando da periculosidade da eletricidade? Ué, eu achei que essas cercas elétricas eram para proteger a minha família e meus bens, e não o bandido! Só falta a lei nos obrigar a colocar a seguinte placa: “Ei, querido, você que quer roubar minha casa, como eu prezo pela sua vida digna e honesta, estou deixando esse aviso que a cerca que envolve minha casa tem perigo de te eletrocutar. Por favor, não se machuque ou não morra, porque eu ainda posso responder por isso.” Francamente...
4) Se você está de saco cheio de um bando de moleques (que não têm nada de mais útil para fazer) pularem seu muro, invadir sua casa, pegar o que é seu e ainda rir da sua cara e ainda está sem dinheiro para colocar uma cerquinha bonitinha com uma plaquinha, o que você vai fazer? Fazer um “gato” com o poste em frente da sua casa seria uma boa opção! Eu tive vontade de fazer isso quando três maconheiros invadiram por mais de 3 vezes minha casa para roubar mangas (só não roubaram mais porque no meu quintal não tem nada de valor), sujaram meu quintal e meu portão e vai saber se não judiaram de meus cachorros. E eu ainda tenho que me preocupar se os moçinhos vão se machucar? Onde estamos?

O dono da casa errou em fazer um “gato”? Errou. Mas ele teve motivos. Se crianças estivessem estudando em casa ou fazendo algo mais útil do que invadir residências alheias, ele não faria tamanha burrada. Estou falando alguma mentira? O pior é que o azarado, na tentativa de se proteger, ainda piorou a situação, já que como “protesto” moradores com “dor no coração” saquearam de vez sua casa. É por isso que eu não acredito nas leis dos homens, mas na lei divina. Que a mãe do garoto morto saiba administrar sua terrível dor, a pior dor do mundo, mas que esse ocorrido possa mostrar-lhe como educar corretamente um filho, para que ela não perca mais um no mundo do crime.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

PRIMOGÊNITA RENEGADA


Eu ainda me lembro quando a colocaram nos meus braços. Tão frágil, tão pequena. A envolvi num terno abraço e ofereci todo o meu carinho de mãe... eu sabia que aquele momento estava condenado a nunca mais acontecer, pois meu bebê era uma menina. Vivemos em um país no qual os casais só podem ter um filho. Meu marido sonhava com um menino, para manter a tradição do nome e da honra da família. Mas veio uma menina... não podemos tentar novamente. Quando ele chegou, correu para o quarto. O meu olhar já revelava que não era o que ele esperava. Sua decepção foi aterradora. Eu me lembrei da família dele me dizendo que eu tinha a obrigação de lhe dar um menino porque era um sonho dele... Ele correu até mim e a me tirou dos braços. Meu instinto de mãe falou mais alto e o ataquei. Os irmãos dele me seguraram, exclamando que era o melhor a ser feito. Eu tinha que tentar novamente. Estava em jogo a honra e o nome da família. Eu não sei onde minha filha foi parar. Chorei por dias, sentia ódio do meu marido e demorei muito para perdoa-lo. Mas cresci aprendendo que honra é o bem mais importante. Aceitei. Mas às vezes eu sonho com ela, jogada em uma sarjeta... coberta por seu próprio sangue. Esquecida. Invisível.

ILHA DAS FLORES


Meu nome é Joana. Tenho 29 anos e três filhos para criar sozinha. O pai sumiu, vai saber por onde anda. Moro na Ilha das Flores. O nome é bonito, mas não se engane. Aqui não é o paraíso. Eu não sei ler nem escrever. Mas já não me preocupo muito comigo. Penso mais no futuro dos meus filhos. Às vezes acho que Deus nos esqueceu. Mas depois a fé de dias melhores volta em meu coração. Temos que garantir nossa comida. Sim, porque têm outras pessoas como nós disputando a mesma comida todos os dias. Onde vamos pode-se chamar de feira. Mas não é aquela feira bonita cheia de frutas e verduras frescas. Ah, se um dia eu pudesse ir numa feira dessas... mas é só um sonho. A feira que vamos fica numa fazenda e temos que correr para pegar melhor lugar na fila, porque muitas outras pessoas como eu disputam essa “feira”. Você quer conhecer? Então me acompanhe. Meus filhos vão junto para me ajudar. Toda vez que chegamos lá ficamos ansiosos esperando o portãozinho abrir. Os caminhões que trazem a comida vêm de muitos lugares. Chegamos... Hoje somos os primeiros! Olhe, o caminhão de comida chegou. Já podemos sentir o cheiro. Não, não é o aroma agradável de frutas frescas. Pode acreditar, você está sentindo cheiro de comida podre. Olha lá, o caminhão descarregando tudo. Não é nossa vez ainda. Primeiro são os porcos. Temos que esperar eles se empanturrarem e só depois os empregados do fazendeiro abrem o portãozinho pra gente. Pronto, agora é nossa vez. Cada família tem 5 minutos para pegarem os restos. Vamos, crianças, somos nós agora. Em meio à lavagem procuramos algo que ainda pode ser comido. Ah, já nos acostumamos com a podridão. Afinal, isso é o que nos resta para sobrevivermos... Se tenho um grande sonho? Sim, claro! Quero que meus filhos tenham a oportunidade de terem uma vida digna e feliz, para que não ofereçam restos de porcos para os meus netos.

* Em Porto Alegre, encontra-se Ilha das Flores, onde pessoas como você alimentam-se da lavagem dos porcos em decomposição, enquanto você reclama da mistura que sua mãe fez para o almoço...